Seu filho passa dez minutos brincando no banho, e isso o faz dormir melhor. Você decide deixar que ele brinque com as panelas, e fica mais fácil estudar depois. Crianças que têm mais liberdade para brincar também são crianças de convivência suave.
Crianças de qualquer temperamento e personalidade, uma vez concentradas, são mais felizes, têm mais iniciativa, mais sucesso no que fazem, lidam melhor com frustração e compreendem melhor orientações. Por quê? E como ajudar a criança a se concentrar?
A criança que se concentra é imensamente feliz.
A frase é de Maria Montessori, mas poderia ser de qualquer grande universidade contemporânea. A concentração é uma das características-chave do desenvolvimento infantil, e embora isso tenha sido descoberto pela primeira vez no começo do século XX, recentemente a concentração foi relacionada a um grupo de funções cerebrais chamadas funções executivas e diretamente relacionada a um desenvolvimento emocional positivo, a melhor desempenho acadêmico e a uma socialização mais saudável. Por que isso acontece?
Quando a criança se concentra, penetra em uma realidade interior que não é acessada sem concentração. Sem concentração, a criança precisa só fazer coisas. Precisa dar conta de tarefas, cumprir ordens, obedecer, controlar-se. Mas não entra em contato com o que acontece dentro dela mesma. Está ocupada demais fora.
Quando se concentra, acontece o contrário. O mundo exterior só existe até as mãos dela. O interior aparece. Ela lida com a sua resiliência, com frustrações, com novos desafios, com a sensação de sucesso e vitória, e a sensação de fracasso, lida com pensamentos, emoções, com seu discurso interior… E na medida em que compreende melhor o que acontece dentro dela, consegue viver melhor fora.
A concentração está mesmo relacionada à felicidade. Mas é mais que isso. Ela está relacionada a propósito. Quando a criança se concentra, não faz as coisas por fazer. Faz porque as coisas fazem sentido. E isso é raro nas vidas das crianças e dos adultos. Num mundo em que na maior parte do tempo se faz coisas porque elas têm que ser feitas, ou porque queremos nos distrair, a concentração é um portal. Para um mundo diferente. Para um desenvolvimento saudável.
A criança sabe de tudo isso. Intuitivamente. Lá dentro. Porque nasceu para se concentrar e se desenvolver da melhor maneira que puder. Por isso ela busca as panelas. Por isso ela tira as calças assim que consegue colocá-las. Por isso ela demora com os brinquedos no banho.
Nós podemos ajudar a criança a se concentrar. Em um texto sobre o assunto, explicamos como:
Como nasce a concentração? A concentração nasce do trabalho. Um trabalho muito especial, que envolva as mãos, a mente e o coração. Que seja interessante, agradável e envolva movimento. De todos os tipos possíveis de trabalho, os que conduzem mais facilmente à concentração são as atividades de independência – que em Montessori nós chamamos de atividades de Vida Prática.
As atividades de Vida Prática são as que permitem à criança se tornar independente do adulto. A criança sempre quer fazer coisas. Nos primeiros seis anos de vida o que mais quer é aprender a fazer as coisas sozinha. Para isso, precisa de nossa ajuda. Nós podemos:
Abaixar ítens da casa para que fiquem acessíveis para a criança.
- Bandejas, travessas, utensílios de cozinha. Livros, roupas, sapatos. Vassouras, rodos, panos. Regadores para plantas, esponjas de banho, sabonete em pedaços.
Demonstrar como se usa cada um desses ítens.
- Atividades de cortar, regar, lavar, limpar…
- Podemos demonstrar em silêncio, para que a criança não se distraia com nossa voz, ou podemos falar sobre o que vamos fazer, com poucas palavras, e então fazer em silêncio.
- Devemos demonstrar devagar, como se alguém estivesse nos ensinando a fazer algo muito, muito complexo.
- E aí devemos convidar a criança para fazer.
As coisas que a criança já sabe usar devem ficar disponíveis para ela, enquanto houver interesse.
- O interesse depende do desafio. Quando não houver mais desafio, o interesse desaparece.
- Isso é um sinal de que podemos oferecer um desafio mais complexo naquela direção.
Depois que a criança estiver trabalhando, não interrompa.
- “Nunca interrompa uma criança em alguma coisa que ela acha que pode fazer sozinha” – Montessori
- “Nunca interrompa uma criança que progride, não importa quão lentamente” – Montessori
A criança não vai se concentrar de uma vez.
No começo pode ser um desafio entender que a criança deseja de verdade se concentrar, e pode ser um desafio maior ainda achar atividades que promovam a concentração. Não se intimide. A criança não vai se concentrar de uma vez.
Primeiro ela vai se interessar, depois se tranquilizar, aí começar a ter algum foco, e só então se concentrar de verdade. A tranquilidade já é um presente precioso.
Para ajudar você, escolhi alguns vídeos do incrível Voila Montessori, que estão numa playlist abaixo. Não se limite às ideias dos vídeos. Siga sua criança e os interesses dela.
Fonte: Lar Montessori por Gabriel Salomão
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